A decisão saiu da 40ª CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil), realizada em Cuiabá (Mato Grosso).
A Assembleia de Deus ratificou uma resolução de 12 anos atrás que orienta os fiéis como se comportar e o que vestir de modo a não incorrer na “indecência”, o que é, no entender dos evangélicos, como se sabe, um dos caprichos do Satanás.
A decisão saiu da 40ª CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil), realizada em abril em Cuiabá (Mato Grosso). Houve uma discussão acalorada. Os conservadores defenderam normas mais rígidas, sobretudo para as irmãs, e os liberais pediram algumas liberações, com o uso de bermuda, que é uma das reivindicações dos fiéis mais jovens. Por fim, houve um acordo para se manter a resolução de 1999.
O Mensageiro da Paz, publicação oficial da Assembleia de Deus, divulgou as principais orientações da resolução, cada uma delas com a menção do trecho da Bíblia que lhe deu origem e respaldo.
Assim, as igrejas têm de se abster de:
1 – Ter os homens cabelos crescidos, bem como fazer cortes extravagantes, bem como o uso de brincos.
Para a AD, tal proibição está expressa em 1 Coríntios 11.14-15: “Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o varão ter cabelo crescido? Mas ter a mulher cabelo crescido lhe foi dado em lugar de véu”.
2 – Mulheres que usem roupas que são peculiares aos homens e vestimentas indecentes e indecorosas, ou sem modéstias.
Os pastores evocaram, nesse caso, 1 Timóteo 2.9,10: “Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos, mas com boas obras”.
3 – Uso exagerado de pintura e maquiagem – unhas, tatuagens e cabelos.
Tais restrições estão em dois trechos da Bíblia – sempre de acordo com a interpretação dos pastores. Um dos trechos é o Lv 19.28,2: "Não façam cortes no corpo por causados mortos, nem tatuagens em si mesmos.".
4 – “Uso de cabelos curtos em detrimento da recomendação bíblica.”
Trata-se de uma referência a 1 Coríntios 11.6, 15, que diz: (6) Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu. (7) O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem. (8) Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. (9) Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem. (10) Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos. (11) Todavia, nem o homem é sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no Senhor. (12) Porque, como a mulher provém do homem, assim também o homem provém da mulher, mas tudo vem de Deus. (13) Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a Deus descoberta? (14) Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido? (15) Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu.
5 - Mau uso dos meios de comunicação: televisão, internet, rádio, telefone.
Essa orientação foi extraída de dois trechos, o 1 Coríntios 6.12 (“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma.”) e o Fp. 4.8 (Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.)
A resolução diz que caberá aos pastores indicar aos fiéis sobre o que podem ver na TV. Alguns deles simplesmente proíbem a compra de aparelho de televisão.
6. Uso de bebidas alcoólicas e embriagantes (Pv 20.1; 26.31; 1, Co 6.10; Ef. 5.18).
Esse último, por exemplo, diz: “Não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito.”
Na ratificação da resolução, houve pelo menos uma sutil modificação, mas que faz diferença quanto o uso de pintura e maquiagem e à utilização dos meios de comunicação. A palavra “proibição” foi substituída por “recomendação”.
A Assembleia de Deus tem mais de 22 milhões de seguidores no Brasil. Trata-se, a rigor, de um conglomerado de “religiões” que rumam no mesmo sentido, mas com uma razoável independência umas em relações às outras.
Isso significa, entre outras coisas, que as decisões da Convenção Geral como estas de usos e costumes sejam adotadas com muita flexibilidade, até por causa de suas contradições.
Algumas dessas contradições desmoralizam os guardiões da moralidade dos fiéis, como, por exemplo, a proibição por alguns templos aos fiéis de não possuírem TV, embora pastores da mesma denominação tenham programas de televisão. Ou ainda o veto ao uso de calça cumprida na escola, mas não no ambiente de trabalho. Todas as igrejas proíbem o uso de barba, mas algumas delas liberam o bigode.
O que perpassa toda resolução é o puritanismo condenatório da sensualidade, sobretudo e quase exclusivamente da mulher. Mulher não pode usar roupa que delineia o seu corpo de mulher. Porque, se assim fizer, ela terá de assumir a responsabilidade pelo pecado não só de sua ousadia, mas também pelo desejo dos outros.
É a negação do feminino, o que leva à velha questão da sexualidade mal resolvida dos puritanos.
Fonte: Paulopes